...

Eu gostei do jeito que você chegou. Do jeito aberto, do jeito disposto, do jeito de quem quer entrar de cabeça no meu mar. E amar. Gostei da sua história, gostei da sua voz. Voz de quem quer enviar energia pelo telefone. Gostei da sua disposição em me conhecer, de me colocar como prioridade. "Eu quero te conhecer e esse sou eu". Mostrou sua alma como se não tivesse nada a temer e, Deus, foi tão lindo a conexão. E lembro a última vez que me senti assim. Lembro que não estava disposta. Mas agora é diferente. Agora quero.

Eu poderia ter sumido sem explicar, mas quis ser transparente. Uma forma de manter a porta aberta, porque o que a gente tinha era bom.

Sim. Criei expectativas e sei que você não teve participação nisso, você não fez nada pra expectativas serem criadas, mas foram.

E eu estava ali, sem nenhum problema pra ser resolvido, sem necessidade nenhuma de que meu corte de cabelo fosse notado. 

Não queria te prender em mundo nenhum, arrancar nenhuma liberdade sua.

Leve, liberta. Não levei peso nenhum, levei?

Querendo só compartilhar um filme, um carinho, uma parceria no sol. 

Você não abriu a porta, não quis tentar.

"É bom, mas é só isso"

E entendo o seu medo. Eu também tive. 

Mas agora quero. Quero esse frio na barriga nos encontros, quero sentar pra escolher iFood, quero ficar horas tentando escolher um filme, quero banhos de sol juntos, quero andar quilômetros com companhia. 

Na companhia de alguém que queira tentar. 

Vou à caça. Foi bom e é só isso.

Hoje não vi o sol.

Aliás, não o tenho visto de fato dia algum, mas hoje eu soube que ele não estava ali na janela como em outros dias. São as luzes do sol que entra pela janela que me lembra que não preciso da sua luz.

Bom, se até o sol tira seus dias de folga para descansar dos nossos rostos tristes e exaustos, porque eu não posso tirar folga de mim e desses pensamentos de que aqui tá escuro e frio sem você?

Eu não sou tão triste assim, é que hoje estou exausta. Está frio e sinto sua falta. Sinto muito.

Eu sempre pensei que se acontecesse comigo eu não usaria essa frase, mas usei: 

"O que está acontecendo aqui?". 

É o instinto que fala mais alto porque a gente demora a processar o que realmente está acontecendo, mesmo que seja óbvio. E a gente precisa de um tempo pra absorver tudo e nunca o tempo entre "o que está acontecendo aqui" e a resposta é o suficiente pra entender.

A traição é a quebra de um pacto. Dói. Mas sempre achei que estava preparada, porque eu nunca confiei totalmente em alguém que não fosse eu.

Dói. E até hoje eu não entendo.

Naquele momento uma guerra interna se iniciou enquanto eles se vestiam. A vontade de gritar e quebrar tudo versus a vontade de pedir pra se sentarem e me explicar: como isso aconteceu? Onde foi que eu errei? Desde quando aquilo vinha acontecendo?

Nessa guerra ninguém venceu porque meu corpo fugiu. O instinto entende que aquilo dói demais e que sua vida está em perigo.

"Tereza, espera!".

Não esperei. E ainda continuo correndo. Não fugindo, óbvio. Aceitei, cresci.

Corri tanto que hoje estou tão longe daquilo que me feriu por dentro. Tão longe e tão melhor.

Obrigada por não me deixar ficar.

Se entender, se amar, reconhecer seu próprio valor e limitações é difícil, é árduo, é contínuo...

Não é uma chave que você vira, uma casa que você entra, um lugar que você chega e pronto. 

É um debate interno diário, quicá várias vezes em um mesmo dia.

O tempo todo você interage com pessoas, com conteúdos, com histórias que coloca em cheque tudo aquilo que você acredita sobre você mesmo.

Se conhecer é fundamental. Conhecer seus objetivos, suas qualidades, seus defeitos. Saber como você chega em um orgasmo, quantas horas de sono precisa. Saber o que seu corpo precisa, o que sua alma precisa, o que sua mente precisa.

Tudo o que você sabe sobre você mesmo precisa ser consultado sempre que se sente em cheque.

Se você não se conhece...bom, aí tudo que falarem será tido como verdade por você mesmo.

Cuidado e se cuida.